Julie Keith, natural de Oregon, Estados Unidos, mal podia imaginar a tragédia que estava por trás do brinquedo que comprou em outubro de 2012. O pretexto era a festa de aniversário da filha, perto do Halloween, mas o que parecia uma compra comum acabou virando algo muito maior. Meticulosamente escondido dentro do produto com a inscrição “made in China” estava uma carta, escrita em inglês, denunciando o trabalho escravo por que passam os funcionários daquela fábrica/prisão.
A letra era trêmula e o cenário descrito de verdadeiro atentado aos mais básicos direitos humanos. O homem, que se identificou apenas como Zhang, de 47 anos, descrevia como eram passadas as 15 horas de trabalho diárias, sem qualquer pausa em qualquer dia da semana, em troca de um salário de miséria. Além disso, os espancamentos, torturas de sono ou outras práticas semelhantes eram comuns na fábrica
Não admira por isso que também fossem comuns as mortes por doença ou suicídio de muitos dos trabalhadores. Por isso, Zhang pedia na carta: “se você comprar este produto, por favor, mande esta carta para a Organização Mundial de Direitos Humanos. Milhares de pessoas na China, que sofrem a perseguição do Partido Comunista, vão ser gratas para sempre”.
(Tradução livre feita pelo Hypeness – alguns trechos da carta estão ilegíveis, o que dificultou a tradução. Em resumo, eis o que diz a carta:
Senhor
Se você por acaso comprou esse produto, por favor faça a gentileza de encaminhar essa carta para a Organização Mundinal dos Direitos Humanos. Milhares de pessoas que estão sendo sendo reféns do Partido Comunista Chinês vão agradecer e lembrar de você para sempre. Esse produto foi produzido pela Unidade 8, Departamento 2, Masanjia Labor Camp, Shenyang, Liaoning, China.
Pessoas que trabalham aqui tem que trabalhar 15 horas por dia, sem pausa nos fins de semana ou feriados. Se se recusarem, eles sofrem torturas, apanham, e recebem praticamente nenhum pagamento (10 yuan por mês – aproximadamente 2 dólares).
Pessoas que trabalham aqui sofrem punições ilegais, sendo condenados a trabalhar nessas condicões de 1 até 3 anos em média, sem nenhum tipo de sentença judicial. Muitos deles são totalmente inocentes e estão sendo punidos somente porque acreditam em coisas diferentes do que o CCPG, e nesses casos sofrem punições mais severas do que os outros.”)
Zhang entretanto conseguiu sair da fábrica e continua sendo um testemunho vivo do horror que se passa no campo de trabalho forçado de Masanjia. Outros como ele têm dado voz e rosto à causa, como Chen Shenchun, de 55 anos que passou dois num lugar desses e diz: “às vezes os guardas puxavam-me pelos cabelos, colavam na minha pele barras ligadas à eletricidade, até que o cheiro de carne queimada enchia a sala”.
A carta foi encontrada num brinquedo comprado na loja Kmart, que até ao momento não prestou esclarecimentos sobre o caso, que (graças à Internet) começa a correr o mundo.
O The New York Times diz que muitos dos escravos nesta região do norte da China foram capturados por crença religiosa. Uma realidade que julgávamos impossível em pleno século XXI, mas que continua afetando milhares de pessoas. Felizmente, este campo em concreto parece ter chegado ao fim, depois do caso de Zhang, o que prova a força e velocidade dos novos meios de comunicação. Os últimos presos de lá já foram liberados, depois de um intenso escrutínio às condições de trabalho.
Encontramos também um vídeo feito pela NTDTV, que mostra as condições precárias de trabalho escravo no Masanjia Labor Camp, que é onde o autor da carta estava confinado: